BILHETE POSTAL
Por Eduardo Costa
O casal recebia um valor mensal da Segurança Social de 130,00. Medida criada na sequência do COVID-19. Com o compromisso de se estender por cinco anos.
Sem qualquer informação prévia, e ainda não decorridos estes ‘garantidos’ cinco anos, este apoio foi-lhes reduzido para metade há cerca de um ano.
E também sem qualquer informação prévia, foi cortado na íntegra há cerca de meio ano.
“Não acredito nos políticos. São uns mentirosos e não querem saber das pessoas, fazem discursos bonitos para as eleições, acreditamos e depois não querem saber. Estou cada vez mais desacreditado”. Foi o desabafo, com ar revoltado, deste ‘lesado’. Complementa: “E a falta de respeito é tão grande que nem sequer avisam que vão cortar. Temos contas a pagar e contamos com esse valor. Não está certo!”
E de facto não está. Enquanto os que decidem no estado tratarem os cidadãos desta forma, cresce o desinteresse pela democracia. Os eleitores deitam a toalha ao chão. Sem esperança.
“As gerações dos nossos pais e avós sempre acreditavam que a vida dos filhos e netos ia ser melhor do que a deles. Hoje temos a convicção que não vai melhor. Provavelmente será pior o futuro dos nossos filhos. E em muito pelas atitudes dos políticos, que nos fazem desacreditar.”
Esta afirmação ouço-a vezes sem conta. Concordo. E deixa-me triste.
Sou dos que se recusam a acreditar que falhou o estado de direito democrático que nos foi garantido.
Quando falo em debates públicos sobre o papel da imprensa na defesa do estado de direito, do direito de informar e de ser informado, afirmo que este pilar está ameaçado. Neste lamaçal, a imprensa haverá de ser a voz dos que não têm voz. Sempre faço o apelo para que a imprensa não se deixe subjugar.
Nestes ‘tempos novos’, não tememos o ‘lápis azul’ da Censura, mas os lápis de todas as cores, tão ou mais perigosos.
Eduardo Costa, jornalista, presidente da Associação Nacional de Imprensa Regional
(Este artigo de opinião semanal é publicado em cerca de 50 jornais)